A VERDADE SOBRE OS BINGOS-2 Há dois anos, eu e vários colegas do Ministério Público de todo País demos início a uma difícil luta contra a “jogatina”no Brasil. Como integrante da PIC (Promotoria de Investigações Criminais do Estado do Paraná), sempre tive o combate aos jogos de azar como uma das prioridades da minha atuação, especialmente em relação aos Bingos. Os leitores da Folha que freqüentam esta página tiveram a oportunidade de ler, há cerca de cinco meses, um artigo escrito por mim e intitulado como “A Verdade Sobre os Bingos”. Na oportunidade, citei que o Estado do Paraná era (e continua sendo) o único da Federação a fechar as portas de todas as casas de Bingo. Também expus as entranhas dos bingos e suas vertentes criminosas. Nossa luta não se restringe à periferia dos Bingos ou dos Caça-níqueis. Pretendemos desmascarar o Crime Organizado. Temos inúmeras provas de que por trás das máquinas e das bolas coloridas há diversos meios para legalizar o dinheiro sujo do tráfico, do roubo, da dilapidação do erário; enfim, da criminalidade. Seja por meio de contas CC-5 ou de empresas fantasmas – ou ainda explorando outras estratégias espúrias – os objetivos dos “jogos lícitos” atingem expectativas muito além da aparente venda de cartelas (caso dos Bingos) e de créditos nas máquinas (os Caça-níqueis). A jogatina, como a maioria dos leitores sabe, nasceu sob os domínios da máfia. Todos conhecem a historia de Las Vegas e do Cassino Flamingo, o primeiro a ser criado no deserto dos EUA e que, rapidamente, se transformou no maior negócio da Máfia Americana. No Brasil ocorreu o mesmo fenômeno. Aqui a Máfia Italiana precisava diversificar seus negócios e enxergou no Bingo e Caça-níquel a grande oportunidade de faturar alto. E foi o que fez ! Contra a vontade do jogador e ex-ministro Zico, o então Deputado Onaireves Nilo Rolim de Moura (à época com prestígio do Presidente Collor de Mello) inseriu os Bingos como meio de capitação de recursos para o esporte naquela que, inicialmente, era uma legislação séria. Alguns grandes clubes de futebol, como São Paulo e Palmeiras, investiram pesado no negócio, mas endividaram-se em poucos meses e abandonaram a iniciativa. Pelé, quando era ministro, na tentativa de modernizar o nosso Esporte investiu contra a legalidade do Bingo. Foi sucumbido, à época, pelos interesses financeiros e, principalmente, pela “bancada da bola”, capitaneada pelo Dep. Eurico Miranda – que dispensa comentários. Começaram, então, os escândalos pelo País. Sonegação fiscal, homicídios, lavagem de dinheiro, enfim, um cabedal de denúncias e de processos. O único caminho era a proibição do jogo, sob pena do Brasil perder o controle total da situação. O então Senador Roberto Requião propôs um projeto de lei (o único) para considerar explicitamente o Bingo ilegal. E assim foi: o que era para ser um projeto de lei acabou se revertendo para a Lei nº 9981/02. Alguns Estados inovaram juridicamente e regulamentaram a atividade por legislações estaduais totalmente inconstitucionais. Exemplos: o Estado do MS, no qual o governador Zeca do PT editou decreto regulamentador; e do meu Estado, o Paraná, onde essa atividade foi regulamentada por resolução de um ex-secretário de Governo (administração Jaime Lerner). Há cerca de um ano, foi revelado que o então secretário de Estado regulamentou a atividade simplesmente porque era proprietário de duas das maiores casas de bingo em Curitiba. Hoje, o advogado responde por processo criminal e civil na Justiça Paranaense. Uma das primeiras ações do governador Roberto Requião, em janeiro de 2003, foi a revogação da resolução que regulamentava os bingos e o total apoiou o Ministério Público no fechamento dos 42 estabelecimentos no Estado. Mesmo assim, surpreendentemente o Governo Federal criou, em outubro de 2003, um Grupo Interministerial de Trabalho para estudar essa questão, batizado como GTI-Bingos. Esse Grupo ouviu diversas entidades e realizou várias audiências. Agora, com o caso Waldomiro Diniz, acreditamos que a questão ganhará outro nível de prioridade. No ano passado, reuni um grupo de Procuradores da República e de Promotores de Justiça de todo o País para levar as nossas considerações ao tal GTI-Bingos. Os integrantes da Comissão Nacional de Combate ao Jogo do Bingo (nome que demos ao “time”) não pertencem a partido político e colecionam histórias de sucesso na luta contra a pior espécie de criminosos. Conhecemos profundamente as conexões entre a jogatina e a lavanderia de dinheiro em nosso País; afinal, revelamos o envolvimento e prendemos gente como o “Comendador Arcanjo” (MT), José Carlos Gratz (ES), Carlinhos Cachoeira (RJ) e Ivo Noal (SP)– os dois últimos ainda soltos. Nós, que lutamos contra o Crime Organizado, acreditamos que o escândalo Waldomiro sirva como exemplo para que o Governo sepulte de vez a discussão sobre a legalização dos Bingos e máquinas Caça-níquel. O próprio presidente Lula sempre manifestou-se contra os jogos. Portanto, faça-se a vontade presidencial ! Luiz Fernando Delazari, 33 anos. Coordenador da Comissão Nacional de Combate ao Jogo de Bingo Secretário da Segurança Pública do Paraná