Findo os trâmites, temos o que sempre considerei melhor para o Brasil: a reeleição da presidente Dilma.
Embora a nossa gloriosa e parcialíssima mídia -afinal, a nossa grande mídia é um partido e alinha-se com a oposição- insista em dividir o Brasil em dois, embora essa falsa dicotomia, a realidade dos votos mostra que não é bem assim.
Esses mapas, dividindo o Brasil em vermelho e azul, tão insistentemente divulgados por jornais, televisões e sítios de notícias, esses mapas são uma fraude e apenas servem para reforçar o preconceito e realçar a estultícia de setores abduzidos pelo fascismo em sua formulação primária, bruta.
É triste dizer, mas não vejo nenhuma inocência de parte de nossa empoderada mídia ao cindir o país dessa forma maniqueísta, dicotômica.
Mesmo que dois grandes colégios eleitorais desse Brasil dito moderno, que produz , em oposição ao Brasil atrasado e manemolente, também tenham sido tingidos de vermelho, ainda assim buscou-se se fixar essa divisão, essa fronteira mentirosa, esse embuste digno de uma capa da revista “Veja”.
Como afirmou um de nossos mais lúcidos jornalistas, Jânio de Freitas: os votos foram divididos em dois –e nem poderia ser de outra maneira– mas não o país.
Aliás, a própria “Folha de São Paulo”, nas horas seguintes à apuração, publicou um mapa com a votação por municípios, onde essa divisão entre Norte e Nordeste vermelhos e Sudeste e Sul azuis dissolvia-se, desfazendo o dualismo discriminatório, intolerante e, quase sempre, racista. Mas, desgraçadamente esse mapa não ficou muito tempo no ar.
Os sete irmãos ideológicos que ainda pensam que dominam e moldam a opinião pública brasileira com seus mapas fracionando, despedaçando o país entre o “Brasil moderno e que produz” e o “Brasil mal informado e pobre” , os sete irmãos cutucam e despertam sentimentos e manifestações que julgávamos extirpados da humanidade com a evolução da espécie.
Reafirmo: na há inocência em nossa mídia ao dividir o país entre o vermelho e o azul. Mesmo porque essa partição, essa rachadura é falaciosa, já que, no Sul -Sudeste, a presidente reeleita teve mais de dois milhões de votos que no Norte-Nordeste.
O jornal dos Frias, com a presunção dos sabichões, chega ao pedantismo, ao charlatanismo de ter seções que denomina de “Folha Explica”, “Folha Recomenda”, e, nessa linha do preconceito e da discriminação, tenta hoje “explicar” com o Bolsa Família e IDH afetaram (atenção para o verbo!) afetaram as eleições. Enfim como se depreende, os pobres contaminaram, infectaram, infeccionaram as eleições, corrompendo seu caráter democrático.
Oh, Deus!
Se os pobres, se as pessoas de menor renda votassem, como sempre votaram, segundo os interesses da classe média alta e dos mais ricos, segundo os interesses do mercado, renunciando os seus interesses, aí sim, que maravilha!, estaria tudo conforme a tradição, a família e a propriedade.
Senhoras e senhores senadores.
Tanto o candidato derrotado quanto a candidata vitoriosa, apropriadamente, falaram um unir o país.
Tudo bem. É por aí. Precisamos mesmo exorcizar os fracionistas, os separatistas , esse seccionismo idiota, abjeto porque a eles misturam-se a intolerância de classe e racial.
Mas, senhoras e senhores senadores, unir o país em torno de quê?
De quê consignas, de quê bandeiras, de quê ideias, de quê propostas?
A pretendida unidade não se dará em cima de apelos morais, de chamamentos a um patriotismo sem causa, etéreo, idílico, nubívago.
E nem acho que a reforma política seja a deusa da cura que nos livrará de todos os males, amém. Mesmo porque o que se pretende, seja de um lado ou de outro, é muito mais uma reforma eleitoral que reformas institucionais, de fundo, que mudem, que transformem e revolucionem a qualidade das instituições.
Voto em lista, voto distrital, financiamento público das campanhas, fim do suplente de senador, coincidência de mandatos, data de posse, reeleição ou não reeleição, convenhamos, caros colegas, não constituem pontos de uma verdadeira reforma. Quando muito são demãos sobre um madeirame de há muito corrido pelos cupins….. e chupins. Verniz que vai disfarçar a corrupção das instituições, jamais debelá-la.
O homem, desde as cavernas, e ao correr de milênios, esforçou-se tanto, queimou tanta pestana, ferveu tantos neurônios para distinguir causa e efeito e nós, nos esplendores do século 21, continuamos trocando alhos por bugalhos.
O que condiciona a política? O que a limita e a delimita? O que a aprisiona ou a liberta?
Com o diria aquele marqueteiro norte-americano de Bill Clinton, sem a sofisticação ou o empolamento dos Nobel de economia ou da London School of Economics, mas com a crueza da realidade das coisas, é a economia, estúpido.
De minha parte, não seria estúpido em deixar de reconhecer a premência de uma reforma política radical, saneadora. Mas a urgência urgentíssima está na economia.
Não vai sobrar política ou políticos ou partidos se o país continuar se desindustrializando, perdendo competitividade, recuando nos campos da inovação e da tecnologia, dependendo, como há 500 anos, da exportação de produtos primários e da importação de produtos industrializados.
Não há futuro político para um país com um PIB tão ridículo.
Como a reforma política poderá, por ela mesmo, diminuir uma das cinco mais brutais concentrações de rendas existentes no planeta Terra? O fim da reeleição terá o condão de pulverizar a especulação financeira e esse jogo, essa dança pornográfica das bolsas?
Enquanto nos divertimos com o tema da reforma política, está aí a mídia a revelar a verdadeira preocupação dos bancos, das multinacionais, do capital financeiro internacional, enfim, dos donos do dinheiro.
Como mancheteiam os jornalões de hoje, com uma ou outra diferença: “Mercado quer guinada de Dilma na economia, com redução de gatos e ajuste fiscal”. “Bancos querem alguém do mercado financeiro no comando da economia”.
Quer dizer, Armínio Fraga não será o ministro da Fazenda, mas pouco importa: tudo o que ele recomendava na campanha da oposição o tal mercado quer ver adotado pela presidente reeleita.
Pacificar o país, unir o país é, antes de tudo, sobretudo, reconciliar-se com a sua gente, com os mais pobres, com os trabalhadores, com os assalariados, com os industriais nacionais, com osn desenvolvimentistas, com os pequenos e médios comerciantes, com os pequenos e médios produtores rurais, com os agricultores familiares, com os assentados e acampados da reforma agrária, com os moradores urbanos sem teto.
Reconciliar-se com os brasileiros e reconciliar os brasileiros, é ser solidário com a inquietação dos estudantes, com a agitação e a pressa da juventude.
E isso não vamos conseguir tão pura e simplesmente com remendos eleitorais pouco criativos e de ocasião.
Não vou fugir desse assunto, se o debate da tal reforma política galvanizar as opiniões e sensibilizar corações e mentes. Não vou fugir. Mas que isso é começar a construção da casa pelo telhado, não tenho a menor dúvida.
Como teimo dar murros em ponta de faca, por mais afiadas que sejam as pontas, vou continuar pregando um projeto para o Brasil que, a partir da revolução de seus fundamentos econômicos, revolucione também a política.
Neste segundo e decisivo turno, trabalhei com afinco pela reeleição da presidente Dilma. Serei solidário aqui nesta casa à sua determinação de reformar a política sem, no entanto, jamais esquecer da ordem das coisas.
Por fim, queria me solidarizar com o senador Aécio Neves, tão mal compreendido pela nossa mídia. Em sua fala, domingo à noite, ele disse que, mais uma vez, citaria São Paulo, isto é, o apóstolo Paulo.
Não conhecendo a citação famosa, os nossos jornalistas e seus veículos saíram dizendo que Aécio agradecia o Estado de São Paulo. Alguns chegaram mesmo a criticá-lo por essa “desfeita” com a sua Minas Gerais.
Oh, tempora!