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Página IncialArtigos e discursosA taxa de juros bailando entre a ignorância e a ganância

A taxa de juros bailando entre a ignorância e a ganância

Aliança pelo Brasil

por J. Carlos de Assis*

Os comentaristas e gestores da atual política econômica se dividem em duas grandes categorias: a dos ignorantes ingênuos, que se limitam a repetir a cantilena neoliberal sem entender nada do que falam, e a dos que se aproveitam da ignorância dos primeiros para ganhar bilhões de reais com taxas de juros estratosféricos e outros truques do sistema, via derivativos. Sinceramente, não sei em qual categoria enquadrar Alexandre Tombini, o presidente do Banco Central, que acaba de anunciar que a taxa básica de juros (Selic) não será reduzida. Não posso conceber que esteja vendido a banqueiros e financistas. E é difícil que alguém que chega a presidente do BC seja apenas ignorante.

Tentemos decifrar esse enigma. A justificativa para que o Brasil tenha a taxa de juros real mais elevada no mundo são de dois tipos. Primeiro, alega-se que é para conter a alta demanda. Isso, obviamente, é um engodo. Basta ver a evolução do PIB, a taxa de desemprego e o nível de renda para concluir que não temos pressão de demanda generalizada sobre os preços. Na verdade, o principal fator inflacionário, conhecido de nós há décadas, é a velha indexação – ou seja, o processo pelo qual a inflação passada serve de indexador de preços futuros. Como o Governo não tem política para evitar a indexação, nenhuma taxa de juros conterá a inflação futura.

Entretanto, é no campo estritamente monetário e financeiro que se encontra o centro das pajelanças do Banco Central. Temos cerca de 2 trilhões de reais em dívida pública, grande parte dela indexada à taxa básica Selic. O Banco parece apavorado com a ideia dessa montanha de títulos derreter de uma hora para outra caso ele reduza a taxa básica. Isso, na concepção simplória dos nossos banqueiros centrais, geraria não uma grande inflação, mas uma hiperinflação do tipo alemão dos anos 20 do século passado. Em outras palavras, o BC cede a uma chantagem implícita do mercado, que pede mais taxa de juros.

É nesse ponto que a ignorância prevalece sobre a honestidade. Se o BC caminhar para uma  redução gradual e firme da taxa básica de juros, pouca gente vai sair dos títulos públicos. Simplesmente porque os títulos públicos são a aplicação mais líquida e mais segura do mercado. Líquida, porque pode ser trocada a qualquer hora por dinheiro na mesa de open do Banco Central. E mais segura, porque a dívida pública, caso necessário, é convertida num dinheiro vivo emitido a qualquer tempo pelo próprio BC, que diferentemente de qualquer instituição financeira privada não quebra, por definição. Aliás, quando ocorre que uma instituição privada está emitindo título com rentabilidade maior que a do título público é sinal certo que está desesperada por dinheiro e vai quebrar.

É isso que leva os bancos centrais norte-americano e europeu a adotar taxas básicas de juros próximas de zero para animar a economia, e o Banco Central Japonês recorre ao expediente extraordinário de oferecer taxas de juros negativas para estimular a inflação e a demanda. Nesse contexto, o que fazemos é uma estupidez incomensurável. Travamos a economia em lugar de estimulá-la com taxas de juros baixas e política fiscal expansiva. Claro, alguém está ganhando com isso. O principal orador privado na última reunião do CDES, Luís Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, fez um apelo dramático para que todos se esforcem para superar a crise. É que, segundo ele, todos perdem com ela. No dia seguinte, o Bradesco anunciou um lucro trimestral de R$ 24 bilhões, refletindo 30 trimestres seguidos de lucros crescentes!

*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ.