Requião quer prioridade para reforma econômica
Em seu primeiro discurso na volta ao Senado, nesta sexta-feira (4), o senador Roberto Requião (PMDB-PR) defendeu com bastante força que o Congresso priorize a reforma econômica, para ele “a mãe de todas as reformas”, deixando em segundo plano outras iniciativas, como as reformas política e eleitoral.
“Afinal, que peso, importância e transcendência têm para a vida do brasileiro o voto distrital, as regras da fidelidade partidária e quetais, se a subordinação do Brasil aos ditames dos rentistas, pátrios ou estrangeiros, põe em risco, permanentemente, o emprego, o salário, o consumo, a produção, a inovação tecnológica, a perspectiva tão ansiada de um país forte, desenvolvido, justo e bom para todos?”, argumentou Requião.
Na contramão do discurso recorrente de senadores e deputados, que o início dos trabalhos da nova legislatura têm se concentrado na defesa da reforma política, o senador paranaense disse que não acredita no êxito dessa reforma, se ela não for precedida de uma profunda mudança dos fundamentos da política econômica hoje vigente no país.
Para Requião, a reforma econômica deve começar com o fim da autonomia que desfruta hoje o do Banco Central. “Hoje, todo o edifício institucional em que se suporta a política econômica tem como base a autonomia do Banco Central (…) que age como um Estado dentro do Estado, subordinando e condicionando as ações do Governo e do setor produtivo aos mandos, e desmandos, do capital financeiro”, disse.
Segundo o senador paranaense, não se trata de uma questão de nomes, “se é Meirelles ou Tombini”. O que importa, disse, “é o princípio, a doutrina” que, conforme ele, permanece a mesma, desde o governo FHC.
Fazendo um histórico da evolução da economia mundial, desde a Conferência de Bretton Woods, que impôs o dólar como moeda internacional, Requião vê a política econômica do Brasil fortemente submetida aos interesses do capitalismo financeiro que, ainda recentemente, levou o mundo toda à crise.
Juros altos, a depreciação do dólar, a flutuação cambial, os impostos altos e excessivos, a falta de política industrial que proteja e estimule o empresário nacional, a inexistência de uma política estatal de crédito, a contenção salarial e do mercado interno o entraves que mantém o país pouco desenvolvido, pobre e desigual, disse Requião
O senador recorreu ainda à história dos Estados Unidos, “nos tempos inaugurais do novo país”, para argumentar que não se constrói uma Nação verdadeiramente independente sem o confronto com os interesses do mercado internacional. Assim, lembrou as iniciativas do primeiro secretário do Tesouro norte-americano, Alexander Hamilton, e seu “Tratado das Manufaturas”, que estabeleceu as bases para o desenvolvimento do país em oposição aos interesses imperiais da Inglaterra.
Mercado ou Nação
Já que “capitalismo e crise são irmãos siameses”, ponderou Roberto Requião, “o Brasil não pode esperar um novo desastre financeiro mundial para se libertar da dependência dos especuladores”. Conforme ele, a crise recente abre espaço para a “reposição do Brasil” e para “a retomada dos pressupostos nacionais”. Mas não “como uma China ou Índia com menos habitantes, participando do mercado global como fornecedor de mão-de-obra barata ou, então, como produtor e exportador de commodities de minérios e grãos”, disse o senador.
Para Requião, trata-se de saber se queremos ser uma Nação, para os brasileiros, ou um mero mercado, para o desfrute dos outros. E, segundo ele, não se constrói uma Nação com juros altos, os mais altos do mundo, com o dólar depreciado, com o câmbio flutuando, com o crédito nas mãos dos bancos, com salários baixos, com mercado interno diminuto, com ausência de política industrial.
“Uma Nação se faz com coragem, determinação, ousadia. Não se constrói uma Nação com tibieza, submissão e entreguismo”, concluiu Requião, conclamando os senadores a encarar a reforma econômica como prioridade desta legislatura.
OUÇA O DISCURSO
Veja na íntegra o primeiro discurso de Roberto Requião na sua volta ao Senado Federal.
crédito de fotografias:
Agência Senado, fotógrafos: Jane Araújo, José Cruz, J. Freitas