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Requião diz que trem-bala é armadilha

Requião diz que trem-bala é “armadilha”

O senador Roberto Requião votou, nesta quarta-feira, 13, contra a Medida Provisória que autoriza a criação da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade, para construir o “trem-bala” entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Além de considerar o projeto “uma temeridade” e possivelmente “condenado ao fracasso”, Requião chamou a atenção do Senado para a biografia, segundo ele pouco recomendável, do diretor-geral da Agência Nacional do Transporte Terrestre, a ANTT, Bernardo Figueiredo, que aparece como fiador do projeto.
Antes de declarar o seu voto, Requião reafirmou “apoio e lealdade” à presidente Dilma. E, conforme ele, por isso mesmo votaria contra a MP, já que o modelo em que se inspira o projeto do “trem-bala” brasileiro vive grave crise no mundo todo. “Ao votar contra, voto a favor da presidente, para evitar que o governo caia em uma armadilha”.

Biografia do fiador

Com base no currículo que apresentou ao Senado, em outubro de 2008, quando foi sabatinado para ocupar o cargo de diretor-geral da ANTT, Requião diz é possível verificar uma simbiose entre as atividades públicas e privadas de Bernardo Figueiredo.
Em 1994, ele era chefe de gabinete do presidente da Rede Ferroviária Federal e participou dos estudos preliminares para a privatização da ferrovia.
Em l995, ocupa a presidência da Interférrea S/A Serviços Ferroviários e Intermodais, uma empresa privada responsável por serviços auxiliares do transporte rodoferroviário.
Quer dizer, em um ano, como funcionário público, arquiteta a privatização da Rede Ferroviária Federal; no ano seguinte, torna-se sócio de uma das empresas beneficiadas pela privatização por ele planejada, afirma Requião
Dos principais trabalhos para a Interférrea, relata o senador, destaca-se a participação de Figueiredo na estruturação das concessionárias Ferrovia Centro Atlântica e da Ferrovia Sul Atlântica, que depois se transforma na ALL, da qual, posteriormente ele vem a ser membro do Conselho Administrativo.
Em, 1996, a Ferrovia Sul Atlântica, depois ALL, com a participação da Interférrea, presidida por Figueiredo, arremata toda a malha ferroviária do sul do país. E, na seqüência, as duas empresas participam da privatização de outros trechos ferroviários, diz Roberto Requião.
Até que ponto, pergunta, o senador, os conhecimentos e relações do funcionário público Bernardo Figueiredo não foram de extrema utilidade para o empresário Bernardo Figueiredo?
Entre 1999 e 2003, prossegue o senador, Bernardo Figueiredo ocupa a direção executiva da Associação Nacional dos Transportadores
Ferroviários, a ANTF, entidade integrada exclusivamente por concessionários ferroviários privados e cuja função é defender os interesses destes, junto ao Governo Federal.
Como diretor da ANTF, Figueiredo ganhou assento na COFER –Comissão Federal de Ferrovias do Ministério dos Transportes, precursora da Agência Nacional dos Transportes, a ANTT.
Em 2004, mais uma vez, Bernardo Figueiredo transita do privado para o público, depois de transitar do público para o privado. Ele assume a Diretoria Administrativa Financeira da VALEC, uma empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, responsável pela construção de ferrovias federais.
Na VALEC, Figueiredo elabora o Plano de Revitalização das Ferrovias, centrado nas tais Parcerias Público Privadas, as PPPs, onde o governo entra com tudo e o empresário colhe os lucros, diz Requião.
De 2005 a 2007, Bernardo Figueiredo atua como assessor especial da Casa Civil.
Em 2008, ele foi nomeado diretor da Agência Nacional de Transporte Terrestre, a ANTT.
Um dia, presidente da associação que reúne as empresas privadas do setor ferroviário, a ANTF; noutro dia, diretor da agência pública responsável pela fiscalização das empresas privadas, a ANTT, afirma o senador paranaense. “Pois bem, é esse o senhor que agora aparece como fiador do trem-bala. É possível confiar?” pergunta
Requião.

Meu Discurso no plenário do Senado

Foto: Lia de Paula / Agência Estado