Requião dispensa representantes e quer discutir com ministro
O senador Roberto Requião, presidente da Comissão de Educação do Senado, dispensou, nesta terça-feira, 17, representantes do ministro Fernando Haddad, da Educação, da audiência pública que discutiu críticas a livros didáticos que conteriam críticas a ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e elogios ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Ressalvando os laços pessoais com o ministro, Requião disse que o convite dele e do senador Cyro Miranda (PSDB-GO) foi feito –e aceito- a Haddad e não a assessores do MEC.
A Comissão renovou o convite ao ministro e conta com a sua presença já na próxima semana. Além da discussão sobre o conteúdo dos livros didáticos adotados pelas escolas públicas do país, os senadores querem debater também com Haddad o ensino da língua portuguesa, uma vez que as escolas também adotam compêndios que dão exemplos com frases que não obedecem à concordância verbal, contrariando as normas da língua.
Na ausência do ministro da Educação, a CE ouviu o presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros escolares Jorge Yunes, que isentou a Abrelivros de responsabilidade pelo conteúdo das obras, já que a avaliação dos livros adotados é feita pelas Universidades Federais.
Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), as polêmicas sobre a análise de períodos presidenciais surgem porque “Fernando Henrique e Lula ainda não são personagens históricas e sim políticos contemporâneos”, logo,“as paixões das análises, a falta de distanciamento crítico para julgá-los”. Conclusão do senador e ex-ministro da Educação: “ Temas contemporâneos devem ser debatidos nas salas de aulas e não constar de avaliações em livros didáticos. Isso é temerário”.
O senador de Brasília criticou ainda fortemente “as concessões absurdas “feitas no ensino da língua portuguesa. “”Em nome de combater o preconceito contra quem fala errado, erra-se também”.
Senadores de oposição ao Governo, como Paulo Bauer (PSDB-DF) e Cyro Miranda (PSDB-GO), também consideraram que a ausência do ministro esvaziou a audiência e mantiveram a linha de críticas à produção dos livros didáticos. Tanto um como outro defenderam a necessidade de “isenção e equilíbrio” na redação das obras. Já Paulo Bauer, lamentou que o MEC não seja mais vigilante com livros de ensino da língua que “ensinam a falar errado”.
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) disse que a produção de livros didáticos no Brasil é “um mega negócio”, envolvendo grandes interesses financeiros e daí os lapsos imperdoáveis como a publicação de mapas com a ausência do Piauí do Paraguai.
Por sua vez, a senadora Ana Rita (PT-ES) afirmou que não viu desequilíbrios entre as críticas aos ex-presidentes. Para ela, equivalem-se. A senadora apoiou-se em uma tabela distribuída na audiência pela Editora Ática, do Grupo Abril, uma das editoras cujos livros foram criticados como politicamente parciais, para demonstrar que não houve tendência a favor de FHC ou de Lula.
O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) , mesmo criticando os erros verificados, tanto em obras de história como de ensino do português, ressalvou que não foi o Ministério da Educação que escolheu os livros. No entanto, pediu mais vigilância.
Já o senador Walter Pinheiro (PT-BA), disse que não era o caso de fazer estatísticas sobre o peso das críticas a este ou àquele político: “ A questão é mais profunda, trata-se de saber qual a orientação, qual a filosofia de educação, qual a concepção do MEC sobre o tema”.
A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), vice-presidente da CE, quis saber “quem, em última instância, é o responsável pelos erros, gramaticais ou históricos”, já que a Abrelivros e o MEC isentam-se de responsabilidade. Quanto à língua, a senadora defendeu que a língua portuguesa é “única e fator de integração nacional”, logo precisa ser preservada.
Sabatina
A Comissão da Educação sabatinou nesta terça-feira, 17, Vera Zaverucha, indicada pela presidente Dilma Roussef para diretoria Agência Nacional de Cinema, Ancine.
O relatório pedindo a aprovação da indicada foi feito senador Inácio Arruda (PCdB-CE), que a considerou tecnicamente apta para a função, dada sua larga experiência no campo do cinema, tanto em órgãos públicos como na iniciativa privada.
Para Vera Zaverucha, seus grandes desafios vão ser o acesso dos brasileiros às salas de cinema, uma vez que, hoje, apenas sete por cento da população nacional freqüenta-as; o aumento da participação do cinema nas programações das televisões; e regionalização do mercado nacional de cinema, deslocando-o do eixo Rio-São Paulo; e a formação de público, levando o cinema às escolas.
A nova diretora da Ancine foi aprovada por unanimidade e recebeu elogios e apoio também da oposição.
Foto: Márcia Kalume / Agência Senado