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Brasileiros e argentinos defendem o fortalecimento do Mercosul

Brasileiros e argentinos defendem o fortalecimento do Mercosul

Por iniciativa do senador Roberto Requião (PMDB/PR), que preside a Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul – Parlasul, parlamentares brasileiros e argentinos debateram nesta terça-feira (19) a relação comercial entre os dois países. A conclusão de todos foi a mesma: é preciso fortalecer o Mercosul. “O Parlasul entrou definitivamente nesta discussão. Vamos acompanhar de perto este processo e as ações do governo brasileiro”, afirmou Requião.
O alto representante geral do Mercosul, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, enfatizou que o grau de integração das economias dos países do bloco já é muito elevado. “O futuro das nossas economias não é mais isolado. É extremamente importante neste processo a participação dos Parlamentos para transformação do Mercosul em um projeto de desenvolvimento econômico de todos os países que participam do bloco”, afirmou.
O embaixador Ruy Carlos Pereira, delegado permanente do Brasil junto à Associação Latinoamericana de Integração (Aladi) e ao Mercosul, informou que, mesmo com a crise econômica mundial, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai movimentaram entre si, em 2011, US$ 52 bilhões. “A América do Sul, o Mercosul, a Argentina são os mercados preferenciais das exportações brasileiras. Eles são vitais à sobrevivência da indústria brasileira”, ressaltou.
Alessandro Teixeira, secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, também reforçou a importância da relação comercial entre Brasil e Argentina. Segundo ele, a Argentina é o terceiro mercado de importações e exportações do Brasil. “Temos relação direta com a economia Argentina. O Brasil é o terceiro maior investidor externo na Argentina. Já colocamos mais de US$ 6 bilhões na economia argentina”, relatou.
“Temos um superávit comercial de US$ 30 bilhões com Argentina, que é o principal destino das exportações de manufaturados brasileiros”, disse Teixeira, dizendo que a solução para o Mercosul é o fortalecimento do bloco, com a expansão do comércio inter-regional. “Só através do diálogo e do fortalecimento do Parlasul a gente consegue ter uma solução de fortalecimento do Mercosul”, avaliou.
Criatividade – A senadora argentina Laura Gisela Montero, presidente da Comissão de Economia Nacional e Investimentos do Senado argentino, confirmou a importância do Brasil como parceiro comercial. Mesmo com as barreiras comerciais impostas, ela acredita que é preciso pensar em soluções conjuntas. “Precisamos integrar nossos sistemas produtivos, nosso desenvolvimento logístico e nossas matrizes energética”, defendeu. “Temos que pensar nos desafios futuros e numa solução conjunta. Temos que ser complementares”, afirmou.
A parlamentar defendeu que, ao invés de barreiras comerciais, haja “soluções criativas”, como a complementação de atividades produtivas. Ela citou a questão da produção de vinhos no Brasil e contou que conheceu o mercado produtor do Rio Grande do Sul. Na época, sugeriu que o Brasil importasse vinhos de uvas que não são cultivadas no país. “Temos que dividir os problemas para avançar nas questões estratégicas de médio prazo”, reforçou.
Na opinião do deputado Guillermo Ramon Carmona, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Culto da Câmara dos Deputados da Argentina, não há crise no Mercosul. Pelo contrário. Há um processo de plena integração entre os quatro países do bloco. Guillermo aproveitou para agradecer a posição de solidariedade e apoio do Parlasul com relação a posição da Argentina sobre as Ilhas Malvinas.
De acordo com o deputado, há três desafios a serem superados: o financiamento integrado a empresas brasileiras e argentinas; a criação de uma agência de ciência e tecnologia do Mercosul; e a redução do uso de Dólares nas transações comerciais. “Precisamos de uma estratégica comum definida e clara para ganharmos mercado em outras partes do mundo”, avaliou.
Barreiras – Glauco José Côrte, presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), relatou a dificuldade vivida pela indústria catarinense nas exportações para a Argentina devido às novas medidas protecionistas. Segundo ele, pesquisa da Federação envolvendo 21 setores industriais mostrou que quase 60% das empresas acreditam que haverá queda nas exportações para a Argentina. Destas, 30% acredita que queda será superior a 50%.
A senadora Ana Amélia (PP/RS) contou que o mesmo cenário se repete no Rio Grande do Sul, onde as medidas protecionistas impactam diretamente sobre a produção de carne suína, maquinário agrícola e setor moveleiro. A informação foi reforçada pelo deputado federal Osmar Terra (PMDB/RS), que relatou que as fábricas de colheitadeiras agrícolas em Santa Rosa estão paradas devido aos bloqueios argentinos.
“Só no Rio Grande do Sul podemos falar de mais de cinco mil pessoas desempregadas devido aos bloqueios, mais de duas mil máquinas agrícolas e três milhões de pares de sapatos parados na aduana”, enumerou Terra.
O senador Paulo Paim (PT/RS) contou que fez audiências públicas com trabalhadores e empresários afetados pelas barreiras comerciais argentinas. De acordo com ele, os acordos firmados não estão sendo cumpridos pela Argentina. “Esta situação inviabiliza o Mercosul. Tem que haver uma política de confiança e reciprocidade”, afirmou.
Venezuela – O senador Luiz Henrique (PMDB/SC) também defendeu o fortalecimento do Mercosul e a integração definitiva da Venezuela ao bloco. “Proponho formarmos uma comissão para ir ao Congresso paraguaio resolver esta questão. Esta e uma medida necessária, ainda mais neste momento de crise”, considerou.
Já o deputado federal Dr. Rosinha (PT/PR) defendeu a aprovação do Banco do Sul. A ideia foi lançada em 2007 pela Venezuela e pela Argentina e já recebeu parecer favorável do Parlasul. Outro ponto defendido pelo deputado é a eleição direta para os membros do Parlamento do Mercosul.
Para o senador Pedro Simon (PMDB/RS), que participou do início das conversas entre Brasil e Argentina há 30 anos, o diálogo do Mercosul deve ser feito via Parlamento. Ele contou que era ministro da Agricultura quando os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín iniciaram as negociações que dariam vida ao Mercosul.
“Até então havia profundas divergências entre Brasil e Argentina”, recordou Simon, criticando que atualmente o Governo Federal “só tem olhos para São Paulo, deixando a região Sul por conta própria”.

Foto: Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul) debate caminhos para as relações comerciais entre Brasil e Argentina. Mesa (E/D): presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados da Argentina, deputado Guillermo Ramon Carmona; presidente do Parlasul, senador Roberto Requião (PMDB-PR); presidente da Comissão de Economia Nacional e Investimentos, senadora argentina Laura Gisela Montero
Crédito: Márcia Kalume/Agência Senado