Antes de tudo, a saudação do Governo do Paraná às delegações que aqui representam os 27 estados brasileiros. Sejam bem-vindos. O Paraná acolhe-os com toda a deferência e sente-se honrado com a presença das senhoras e dos senhores.
Permitam que inicie a abertura deste Nono Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos cantando os feitos de minha aldeia. Afinal, com o ensina o autor, é assim que nos fazemos universais.
Na sexta-feira passada, dia l4, o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad, referentes a 2006. No que concerne à educação paranaense, os indicadores são fantásticos. Segundo a Pnad, nos últimos quatro anos, a taxa de analfabetismo em nosso estado teve uma redução de 38 por cento. Mais ainda, até 20l0, no último ano de nosso governo, o Paraná estará livre do analfabetismo, sendo possivelmente o primeiro estado brasileiro a alcançar a meta. Marco estabelecido pelo Programa Paraná Alfabetizado, da nossa Secretaria da Educação que, agora, o Pnad aponta como certo.
Comecei falando do combate ao analfabetismo porque esta tarefa não se dissocia, pelo contrário, ajusta-se à educação de jovens e adultos.
Na verdade, em um e outro campo, os avanços são nacionais. É o Brasil todo que se mobiliza para erradicar o analfabetismo e incluir jovens, adultos e idosos em nossas preocupações e ações educacionais.
Para quem um dia, sobraçando cartilhas e aplicando o método Paulo Freire, saiu por aí na entusiasmada campanha de ataque à ignorância em que era atada perto da metade dos brasileiros, é reconfortante ver quase concluída a tarefa.
Amiúde, tenho depreciado o discurso recorrente dos que entronizam a educação como o santo e incontornável remédio para todos os males. E lá vêm os exemplos coreanos, japoneses e afins. Tomam como referência, como cânone o salto dos tais tigres asiáticos e pretendem que se reproduza aqui a mesma linha de montagem.
Querem, diga-se, uma educação para o mercado. Mão-de-obra apta a produzir com eficiência e a custos limitados os bens de consumo com os que a internacionalização da economia inunda o planeta. Uma educação utilitária, acrítica, de silenciosos e obedientes montadores de circuitos eletrônicos.
Talvez seja por isso que a educação de jovens e adultos, e a alfabetização de jovens e adultos, tenham sido negligenciadas. Afinal, segundo os interesses do mercado, seus rigorosos e às vezes eugênicos critérios, jovens, adultos e idosos analfabetos ou pouco instruídos não são propriamente a mão-de-obra que elegeriam.
Mesmo o combate ao analfabetismo, freqüentemente, é feito mais pelo constrangimento das estatísticas que pelo compromisso, pela solidariedade aos que foram relegados à margem. Quando não gesto de piedade, a tal responsabilidade social, eufemismo com alguns substituíram e sofisticaram os chás de caridade de antigamente.
Nenhuma coisa ou outra. A educação de jovens e adultos não deve oferecer a eles tão-somente o ensino trivial, os rudimentos básicos das disciplinas. Mais que isso deve oferecer ensino de qualidade. Não é porque chegaram depois às salas de aula que vamos trata-los com desídia, como alunos de segunda classe. Não estamos em uma competição estatística, não estamos correndo atrás de recordes. Estamos, isso sim, falando de mulheres e homens que as circunstâncias das desigualdades e as contradições sociais impediram que tivessem antes acesso à educação, roubando-lhes de forma desapiedada, cruel a possibilidade de aprender.
Ensina-los é reparar parte da ofensa que sofreram, é repor um mínimo da dívida que temos para com eles. Este deve ser o nosso sentimento em relação aos alfabetizandos e aos jovens e adultos que agora voltam às salas de aula.
O mesmo desvelo que dedicamos às crianças, aos adolescentes e aos jovens do ensino fundamental e do ensino médio deve ser endereçado aos matriculados no EJA. O mesmo cuidado com a formação de pessoas integrais, completas, com senso crítico, com capacidade de discernir, avaliar, ajuizar os fatos da vida, os sucessos da história.
Do ponto de vista da formação de opiniões, provamos dias inquietantes. Como disse recentemente um ministro do Supremo Tribunal Federal, vivemos a “idade da mídia”, um jogo de palavras apropriado à “idade média”. Mais que uma contrafação, mais que a repetição farsesca, pantomímica da história, as épocas guardam impressionantes semelhanças.
Lá e cá, a tentativa de imposição de um pensamento único, a dogmatização da verdade, a execração dos discordantes, a truculência e a fraude como métodos.
É em tempos assim que a educação irrompe, fulgura e fulmina o atraso, democratiza o conhecimento, desabrocha a indagação, estimula a pesquisa e faz com que se emulem e se rivalizem escolas de pensamento.
É a escola que queremos, é a educação que perseguimos. Jamais alcançaremos o ideal de um país desenvolvido, forte, fraterno e justo, a nação dos nossos sonhos, a pátria dos nossos sentimentos sem que se reserve à educação pública, universal, gratuita, de qualidade e democrática papel central, a essencialidade, a primazia do que é prioritário.
Queria, por fim, noticiar alguns números da educação de jovens e adultos no Paraná. A Eja está presente no Paraná com 2.782 turmas, reunindo um total de l44 mil e 225 alunos, sendo 70.753 no ensino fundamental e 73.502 alunos no ensino médio.
Já o programa Paraná Alfabetizado atendeu 206 mil alunos, desde 2004. Hoje, são 5.l78 turmas. A meta é alfabetizar mais l00 mil paranaenses até o final deste ano, erradicado assim o analfabetismo em nosso estado. É importante registrar que esse programa volta atenções especiais a populações indígenas, ribeirinhas, remanescentes de quilombos, acampados e assentados rurais.
A UNESCO considera o analfabetismo superado quando se alcança o índice de 97 por cento de pessoas que saibam ler e escrever. No Paraná pretendemos alcançar a todos.
Professoras, professores, senhoras e senhores. Se, por um lado, determinados números da educação brasileira revelem-se ainda incômodos, embaraçosos, de outro, orgulhemo-nos da tarefa que se reservou a nós. Coube a nós, cabe a nós, governantes, educadores, professores a missão de eliminar de vez essa nódoa há tantos séculos envergonha nossa história.
Concluindo, reproduzo aqui algumas reflexões feitas quando lançamos meses atrás o Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná.
No fundamental, no ensino médio, na alfabetização e educação de jovens, adultos e idosos, seja em que nível, queremos uma educação inovadora, transformadora, formadora de mulheres e homens completos, integrais. E que não sejam moldados à divisão de trabalho imposta pelo mercado e manietados pela competição.
A educação como instrumento de mudança. Educar para mudar. Educar para construir um outro mundo, uma nova sociedade, um outro Brasil.
Esta é a única revolução pela educação em que acredito. Não queremos uma educação que molde nossas crianças, jovens, adultos e idosos à imagem e à semelhança dos valores de uma sociedade que tem na competição, na esperteza, na busca pela celebridade e fama, na riqueza fácil, no consumismo idiotizado os idéias de vida.
Uma sociedade que não lê, que não discute, que não questiona, que não pesquisa produz escolas que não se inquietam, que não protestam, que não reagem.
Queremos escolas vivas, criativas, agitadas. Queremos professores que mobilizem as salas de aula, que abram horizontes, que descortinem a vida e as maravilhas do conhecimento.
Queremos escolas que quebrem o monopólio da informação. Professores e alunos esclarecidos, que não se submetam ao controle da opinião pública.
Não vamos romper as amarras da dominação, do atraso, da subserviência, do atrelamento ao capital global, se não rompermos o monopólio da informação.
Queremos uma educação e uma escola libertárias, iluminadas pelas lições da solidariedade, da fraternidade, da magnífica utopia de um mundo sem explorados e sem exploradores. Um mundo onde os homens vivam em harmonia entre si e com o ambiente que os cerca.
Muito obrigado, e bom trabalho.