Desde os primeiros segundos desta sessão, os líderes dos partidos que se transmudaram em governo desclassificam as intervenções da Oposição por serem, como dizem, suspeitas, já que “dilmistas” ou “petistas”.
A liderança do PSDB rebaixa as argumentações dos que se opõem ao impeachment como se fôssemos criminosos, como se as nossas palavras estivessem contaminadas.
Como tem sido noticiado com destaque nos últimos dias, o principal executivo do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, acusa 35 senadores como beneficiários do caixa dois da empresa.
Trinta e cinco senadores!
E olha que estou falando apenas da lista Odebrecht, não adicionei a ela outras listas, com outros nomes.
Ainda assim, se apenas os citados por Marcelo Odebrecht fossem, por suspeição, impedidos de votar no impeachment da presidente Dilma, não haveria votos suficientes para aprova-lo.
Somos 81 senadores, menos os 35 da lista da construtora, teríamos apenas 47 senadores aptos a votar.
A verdade, senhoras e senhores senadores, a verdade pura e dura, cristalina e solar é que nada mais é sólido, nada mais é confiável.
A Lava Jato produziu uma terra política arrasada.
Não há partido que escape sem nódoas. Nem partidos e nem o governo interino, já que toda a santíssima trindade que o expressa, e até mesmo o presidente que o comanda, estão não apenas na lista da Odebrecht e como também em tantas outras listas e denúncias.
Serra, Padilha, Moreira e Temer. Todos os quatro e mais quatro, e mais quatro e mais quatro. Quarenta, quem sabe.
Diante disso, diante dessa realidade tão escancarada como assistir passivamente ao escárnio, a hipocrisia de um discurso moralista?
Ainda mais quando sabemos que 17 governadores praticaram as tais pedaladas, e nenhum deles sequer foi denunciado?
O próprio relator praticou tais atos como governador e resguarda-se dizendo-se autorizado pelo Tribunal de Contas do Estado. Que espécie de poder legislante e autorizatório tem um Tribunal Estadual de Contas?
Que os 35 senadores da lista de Marcelo Odebrecht renunciem o direito ao voto ou sejam impedidos de votar.
Do contrário, a voz do senador Romero Jucá nas degravações das conversas com Sérgio Machado soa verdadeira e deixa clara a natureza do impeachment: deter as investigações da Lava Jato.
Ao mesmo tempo, repto, confronto os senadores que foram ministros da presidente Dilma, especialmente os de meu partido.
Não posso entender que na mudança dos ventos os senhores também mudem de opinião e abandonem um governo ao qual serviram com dedicação.
Ainda mais que os senhores são testemunhas privilegiadas do caráter, da seriedade e da lisura da senhora presidente.
Ou os senhores consideram que isso não tem nada a ver, que as qualidades morais e éticas da presidente não contam e o que conta é balanço das forças políticas, o pêndulo da conjuntura?
Bom, se assim for, vamos desmascarar de vez a fraude das pedaladas. Que elas não sirvam de bengala.
Sei -e quem não sabe!- que muitas vezes tomar determinadas posições custa caro, paga-se um alto preço.
O que importa se o preço a pagar não é a nossa alma, o nosso caráter, a nossa decência, a nossa integridade? Nadar contra a corrente exige, sobretudo, coragem e retidão.
Senhoras e senhores senadores. Não venho aqui gritar “Fora Temer” ou “Volte Querida” porque devemos ir além, ultrapassar essa dicotomia.
Quero ver derrubado esse processo pelo que ele tem de golpista, de nocivo, de ilegal, de fraudulento.
Quero que a presidente Dilma volte e que ela, com a legitimidade de seu mandato, convoque os brasileiros a opinar: que os brasileiros, em plebiscito, decidam se é o caso -ou não- de interromper o mandato dela, optando –ou não- pela convocação de novas eleições.
Se o impeachment, tendo com o fundamento acusações ineptas, é um gravíssimo atentado à Constituição, a permanência da presidente Dilma até o final de seu mandato não contribui para a superação da crise que mantém o país em suspenso há tanto tempo.
De volta ao Planalto, vejo a presidente comandando um governo de transição até a posse do ou da mandatária eleito ou eleita no pleito antecipado. Um governo de transição composto por brasileiros comprometidos com o desenvolvimento nacional, com a soberania nacional, com os trabalhadores;
com fortíssimos e prioritaríssimos investimentos em saúde, educação, segurança, saneamento, infraestrutura. Com a retomada da industrialização, com a defesa do petróleo.
Um governo que se oponha a esse ultramercadismo que fracassou no mundo todo e que tenta se refugiar em nosso país para a felicidade e o proveito do capital financeiro global.
Não há outra saída.
Novas eleições ou morte.
Morte da Constituição.
Morte da soberania nacional.
Morte dos direitos trabalhistas.
Morte da universalização da saúde pública.
Morte da educação pública.
Entrega do petróleo.
Primarização ad aeternum de nossa economia.
Morte das bolsas compensatórias e das cotas.
Morte de qualquer projeto nacional que nos torne um país desenvolvido, altaneiro, justo, igualitário e feliz.
É como eu voto. Voto pelo Brasil e voto com minha biografia. Não me interessa o quanto isso custa. E justifico o meu voto com um roteiro de comportamento.
(Poema de Sidônio Muralha, português que se exilou no Brasil durante a ditadura de Antônio de Oliveira Salazar)
Excelente discurso, digno de um grande Republicano. Parabéns Senador
REQUIÃO SABE O QUE FALA E É DE RESPEITO.
DILMA TEM QUE VOLTAR URGENTE E VAI CONSERTAR ESTA ECONOMIA. INFELIZMENTE TEM MUITOS SENADORES SENDO BARGANHADOS. QUE VERGONHA E POBREZA DE ESPÍRITO POLÍTICO.ROMÁRIO É UM DELES.