A nossa gloriosa e nunca suficientemente louvada, exaltada, enaltecida, aclamada e entoada mídia, continua a cumprir com zelo, maestria e muito proveito o seu papel de liderança e guia da oposição, como aquela senhora que dirigia a Associação Nacional dos Jornais e superentendia Folha de São Paulo proclamava com a desenvoltura e a praticidade dos que sabem o que dizem e querem.
Pois bem. Cumprindo a missão, a mídia foi atrás das viagens do ex-presidente Lula, depois de melindrar-se com a viagem da presidente Dilma ao Vaticano para a entronização do papa Francisco.
Enquanto os escândalos reais, verdadeiros que envolvem, por exemplo, os leilões da Agência Nacional do Petróleo; as concessões sem precedentes às empresas de telefonia; a monumental pizza da CPI do Cachoeira, que nos impediu jogar um réstia de luz que fosse no tenebroso mundo das empreiteiras; a privatização dos portos, tão radical que embaraçaria Reagan, Thatcher e Yeltsin; desses escândalos, desses atentados brutais à soberania brasileira, disso a mídia e seu braço parlamentar não querem saber.
Sendo assim, também vou falar das viagens do ex-presidente Lula. E para isso socorro-me de um texto de Hugo Carvalho, que recolhi no sítio do jornalista Luís Nassif.
O título do artigo é “As viagens de FHC e Lula e a escandalização seletiva”.
Diz o autor:
‘Um ex-presidente brasileiro está rodando o mundo, em viagens patrocinadas por empresas e corporações que cresceram e ganharam muito dinheiro em seu período de governo. Nestas viagens, a presença do ex-presidente ajuda as empresas patrocinadoras a captar investimentos e ganhar mercados.
As empresas amigas também patrocinam palestras deste líder político no Brasil e contribuem com fundos milionários para o Instituto que leva seu nome e destina-se a preservar sua memória.
Se este ex-presidente se chamasse Luís Inácio, suas atividades no exterior seriam manchete da Folha de S. Paulo, colocando-o sob suspeita de atuar como lobista de empresas sujas.
Mas estamos falando de Fernando Henrique Cardoso, que também viaja fazendo palestras, a convite de empresas, ONGs e instituições diversas. A diferença mais notável entre eles (há muitas outras) é que FHC vai lá fora para falar mal do Brasil.
Nas asas do Itaú, seu patrocinador master, Fernando Henrique esteve no Paraguai em 2010 , no dia em que o banco inaugurou a operação para tomar o mercado no país vizinho.
O Itaú também o levou a Doha e aos Emirados Árabes ano passado, como informou a imprensa financeira, com a intenção de morder parte dos 100 milhões de dólares que o Barwa Bank tem para investir no mercado imobiliário brasileiro.
Itaú Unibanco and Fernando Henrique Cardoso visiting Qatar and the UAE
A Folha estava lá (mas não diz quem pagou a viagem da colunista Maria Cristina Frias) “FHC vai ao Oriente Médio com Itaú para atrair investimento”, ela escreveu. Zero de suspeição ou malícia. O jornal não se preocupou em saber se a embaixada brasileira alugou impressoras para apoiar o ex-presidente em sua missão, mas registrou direitinho o que ele disse lá sobre o governo brasileiro atual:
Corrupção cresceu em relação a meu governo, diz FHC. Com esse papo, o ex deve ter atraído investimentos para o Chile.
FHC também falou mal do Brasil quando foi à China, em maio passado, de novo pelas asas do Itaú (nem parece que é um banco, deve ser uma agência de viagens). Reclamou do ajuste do câmbio, da falta de planejamento, e fez o comercial do patrocinador: “Baixar a taxa de juros (no Brasil) é importante, mas tem que olhar as consequências”, ele disse aos chineses. O Estadão resumiu no título a visão de Brasil que FH passou em Pequim: “Não se pode crescer a qualquer a custo, diz FHC”.
Em novembro do ano passado, a casa americana JP Morgan pagou FHC para falar do Brasil sem sair de casa: “O Brasil está pagando o preço por não ter dado continuidade aos avanços implementados”, ele disse, numa palestra para investidores estrangeiros em São Paulo.
Na edição deste sábado, a Folha sugere ao Ministério Público que promova uma ação para alguém devolver “gastos indevidos” com horas extras de motoristas e deslocamento de funcionários, nas embaixadas por onde Lula passou. Mas não se comove com o fato de a estatal paulista Sabesp ter pingado R$ 500 mil na caixinha do Instituto FHC (ah se fosse o Visanet…)
Fernando Henrique ainda era presidente da República, em 2002, quando chamou ao Palácio da Alvorada os donos de meia dúzia empresas para alavancar o instituto que ainda ia criar: Odebrecht, Camargo Corrêa, Bradesco, Itaú, CSN, Klabin e Suzano. A elas se juntaria a Ambev. Juntas, pingaram 7 milhões no chapéu de FH. Mas foi o Tesouro que pagou o jantar, descrito em detalhes nesta reportagem da revista Época.
Todos à mesa eram gratos à FHC pelo Plano Real e não se duvide de que alguns tenham coçado o bolso por idealismo. Mas se a Folha utilizasse o mesmo relho com que trata Lula, teria registrado que os Itaú e Bradesco eram gratos pela maior taxa de juros do mundo; a Ambev deve seu monopólio ao CADE dos tucanos; a CSN é a primogênita da privataria e quase todos ali deviam algum ao BNDES.
FHC e seu instituto prosperaram. No primeiro ano como ex-presidente ele faturou R$ 3 milhões em palestras (“o critério é cobrar metade do que cobra o Bill Clinton”, explicou, modestamente, um assessor de FHC). A primeira palestra, de US$ 150 mil de cachê, que serviu de parâmetro para as demais, foi bancada pela Ambev. O IFHC já tinha R$ 15 milhões em caixa e planejava gastar o dobro disso nas instalações.
O IFHC abriga o projeto Memória das Telecomunicações (esqueçam o que ele escreveu, mas não o que ele privatizou), patrocinado naturalmente pela Telefônica de Espanha.
Todas as empresas citadas neste relato são anunciantes da Folha de S. Paulo e estão acima de qualquer suspeita enquanto anunciantes. Apodrecem, aos olhos do jornal, quando se aproximam de Lula.
Eis aí o segundo recado da série de manchetes: afastem-se dele os homens de bem. O primeiro recado, está claro, é: mãos ao alto, Lula!
A Folha também se considera acima de qualquer suspeita. Só não consegue mais disfarçar o ódio pessoal que move sua campanha contra o ex-presidente Lula.“
Fecham-se as aspas da citação.
A Folha de São Paulo, como sabemos, é o mais provinciano dos jornalões brasileiros. Provinciano e tipicamente pequeno burguês, com aqueles tiques próprios dessa classe que revelam preconceito, despeito, inveja e tacanhice. E uma nada desprezível dose de sordidez, de torpeza, como comprova o caso da publicação da ficha policial fraudada da então candidata Dilma.
Matriz, nutriente e propagadora desses sentimentos, a Folha revela mais uma vez seu lado sombrio. Do sociólogo que se diz poliglota, perdoa tudo. Afinal trata-se de um puro exemplar da casa grande, embora com um pé na cozinha, como ele, querendo ser engraçado, disse. Agora, o pau de arara, egresso da senzala, não tem perdão. Ora, que ousadia, viajar o mundo com a pretensão de representar o Brasil!….. abespinham-se os antigos donos da rodoviária de São Paulo.
Esse ressentimento tem outro motivo. O pau-de-arara, o torneiro mecânico que cruza os oceanos e é extraordinariamente bem recebido aonde quer que desembarque, é também o responsável por outro tormento: o acesso dos mais pobres às viagens áreas. Nas salas de embarque, dentro dos aviões essa gente é um incômodo que provoca urticária nos enfatuados pequeno-burgueses e faz empinar o nariz da nova aristocracia, assim nobilitada pela frequência com que aparece nas colunas sociais; pois acreditem, os nossos jornalões ainda têm colunas sociais.
Assim, quando reclama das viagens de Lula, no fundo, a Folha está deplorando o aborrecimento do acesso dos pobres às viagens aéreas. Ela gostaria que uns e outros ficassem em terra, ocupando “os seus lugares”.
Contam –mais de uma testemunha relata- que em um encontro na Folha, a convite de Otávio pai, o filho, dito Otavinho, que agora comanda o jornal, apostrofou com indelicadeza e arrogância o então candidato Lula. “Como é que você quer ser presidente se não sabe falar inglês”, teria dito o júnior.
Acho que é por aí: FHC pode viajar patrocinado por quem quer que seja, pois a Folha acredita que ele fale inglês. O Lula, todo sabemos, não fala mesmo.
Perfeita análise Senador Requião. Como o Brasil precisa de gente da sua estirpe. Pena que o seu partido o PMDB não lhe permita vôos mais altos. PArabéns, se morasse no Paraná votaria no Sr. para qualquer cargo, inclusive para Presidente da República.
A Globo, a Veja, O Estadão, a Folha, o Financial Times, enfim, todos os que querem ver o Brasil no buraco, pois assim fica fácil manipular os menos esclarecidos, os que pouco ou nenhum acesso as informações tem, e com isso fazem de tudo para acabar com a festa popular no Brasil, querem dar o Golpe, querem voltar ao poder custe o que custar, a elite esta fora do poder e não consegue por vias normais, então ataca pra valer.
Vejam: —> http://ww.arquivoxbr.com
Parabéns Senador. Adoro os seus discursos. Sinto como se estivéssemos conversando.
Completamente diferente daquela lenga-lenga da Marina Silva, que não dá nem para entender.
Muito bacana a matéria. Realmente de muita serventia ao mercado.