A Polícia Federal prendeu nesta semana o doleiro Alberto Youssef, suspeito de fazer parte de uma organização criminosa que usava empresas de fachada para movimentar dinheiro que entrava no Brasil de forma irregular. Segundo a Polícia, a quadrilha chegou a movimentar R$ 10 bilhões, dinheiro de tráfico internacional de drogas, mercado ilegal de câmbio, desvios de recursos públicos e contrabando de pedras preciosas.
Beto Youssef esteve envolvido na operação que desviou 104 milhões de reais da Copel, em dezembro de 2002, últimos dias do governo Jaime Lerner. Em uma manobra comprovadamente fraudulenta, o então presidente da Copel, Ingo Hubert, que também acumulava o posto de secretário de Fazenda, comprou créditos de ICMS inexistentes de uma empresa falida do setor agropecuário, a Olvepar.
Mesmo com pareceres técnicos contrários, atuando em uma ponta como secretário da Fazenda, e em outra como presidente da Copel, Hubert fez a estatal comprar os créditos, dando um prejuízo de mais de 100 milhões de reais à empresa.
O caso foi relatado pelo jornalista Fernando Rodrigues, da “Folha de S. Paulo”. E o programa “Fantástico”, da Rede Globo, exibiu uma fita de vídeo, gravada pelo circuito interno de uma agência do Banestado, mostrando Beto Youssef, ao lado de um funcionário da Copel, acompanhando o saque de parte do dinheiro desviado.
“ É a primeira vez que aparece uma prova documental da atuação de Youssef, com ele ajudando a fazer uma transferência de dinheiro para contas bancárias operadas por ‘fantasmas’”, dizia a reportagem da Folha. O doleiro pulverizou a quantia surrupiada da Copel em dezenas de contas, em uma operação de despiste e de lavagem do dinheiro.
Outro caso, mesmo governo
Em 2004, o doleiro foi denunciado pelo Ministério Público Federal por crimes contra o sistema financeiro nacional e condenado a sete anos em regime semiaberto. Então proprietário da empresa Youssef Câmbio e Turismo, ele havia sido indiciado por crimes contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro (evasão de divisas, manutenção de contas ilegais no exterior e falsa identidade para a realização de operações de câmbio), formação de quadrilha e falsidade ideológica.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), três empréstimos foram concedidos pelo Banestado de forma fraudulenta por uma agência localizada nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal, mediante pagamento de vantagem indevida ao então secretário da Fazenda do Paraná, Giovani Gionédis. O dinheiro teria retornado ao Brasil pelo mercado negro.
Em troca, as empresas entregaram parte do dinheiro – pelo menos US$ 331 mil – ao acusado Giovani Gionédis, que o teria recolhido para a campanha eleitoral de 1998 do ex-governador Jaime Lerner. Segundo o MPF, os três empréstimos foram concedidos sem procedimentos de solicitação e concessão de crédito, sem avaliação econômica dos tomadores, sem aprovação das operações pelos órgãos competentes do Banestado e sem garantias suficientes para o banco.
Até agora, nada
Em 2002, o Ministério Público do Paraná propôs ação contra os envolvidos no golpe que desviou 104 milhões de reais da Copel, mas até hoje ela não foi julgada em primeira instância. No entanto, o senador Roberto Requião, por ter relatado uma denúncia sobre o caso, citando o nome de Ingo Hubert como um dos envolvidos, acabou sendo condenado a pagar uma indenização ao ex-presidente da Copel. Segundo a justiça, como Hubert ainda não foi julgado, ele não pode ser “ofendido”.
Veja abaixo a reportagem do Fantástico, sobre a atuação do Doleiro Alberto Youssef, no Paraná.