por Valdir Cruz, publicado originalmente em: Notícias Paraná
A planilha que define o preço da passagem de ônibus em Curitiba tem muitas pegadinhas, que sempre sobram para o bolso dos passageiros. Em 1984, o então
deputado estadual Roberto Requião iniciou sua campanha para prefeito da Capital denunciando as maracutaias que existiam nos contratos entre as empresas e a Prefeitura, comandada, à época, pelo seu colega de PMDB, Maurício Fruet, pai do atual prefeito, Gustavo Fruet. Neste tempo, eu era estudante de jornalismo na UFPR e já trabalhava no Diário Popular. Um belo dia, o dono do jornal, o “doutor” Abdo Aref Kudri, me chamou e me pediu para fazer uma série de reportagens descendo a lenha nas empresas de ônibus. Comecei a fazer as matérias encomendadas.
Entrevista fatídica
E logo fui entrevistar um jovem e barulhento deputado, chamado Roberto Requião, que denunciava uma montanha de irregularidades existentes nos itens que compõem o preço da passagem. Para provar a safadeza que existia na época (só na época?), ele comprou um pneu de ônibus por um terço do valor que estava definido na planilha.
Minhas reportagens começaram a ser lidas nas rádios e a incomodar. Mas bem no dia que o Requião fez a denúncia, com provas documentais, incluindo o pneu, que ele pendurou no gabinete dele na Assembleia Legislativa, fui chamado à sala do doutor Abdo. Lá estavam, para uma visita “de cortesia”, o presidente do Sindicato das Empresa de Ônibus, Dante Francheschi e outros dois empresários: o também deputado Erondy Silvério e Donato Gulin, vereador em Curitiba. Fui apresentado aos empresários e identificado como o autor das reportagens que denunciavam as empresas.
Quando as “visitas de cortesia” foram embora, o Abdo me chamou na sala e ordenou:
– Suspenda as matérias. Não quero mais nada sobre ônibus no jornal.
Em seguida, viajou para o Rio de Janeiro. Fiquei muito “puto” com a situação. E como tinha redigido a denúncia-bomba feita pelo Requião, não dei bola para a ordem. E publiquei a matéria bem ao lado do anúncio das empresas de ônibus.
Resultado: No dia seguinte fui demitido sem dó, por telefone, direto do Rio de Janeiro…
E pior: bem mês em que me formaria…
Resultado: a primeira demissão a gente nunca esquece.