Foi oficialmente lançada nesta quarta-feira, 21, em Brasília, no Congresso Nacional, a Frente Parlamentar Mista de Defesa da Soberania Nacional. Escolhido como presidente da Frente, o senador Roberto Requião conclamou o país a reagir à pilhagem de nossas riquezas, especialmente do petróleo, à venda do território brasileiro a estrangeiros, à submissão do Brasil à globalização financeira e às reformas que precarizam o trabalho e potencializam a exploração do povo.
Uma das principais tarefas da Frente, disse Requião, é a de informar a sociedade, uma vez que a monopolização dos meios de comunicação impede que os brasileiros saibam o que realmente acontece no país.
Paralelamente à instalação da Frente, o ex-ministro e economista Bresser Pereira lançou em Brasília o Projeto Brasil Nação, uma iniciativa de centenas de intelectuais brasileiros que lutam por construir um programa de desenvolvimento nacional para o país.
Além do senador Roberto Requião, escolhido como presidente, e do deputado Patrus Ananias, secretário geral, fazem parte da executiva do colegiado a senadora Vanessa Graziotin e os deputados Glauber Braga, Celso Pansera, Odorico Monteiro e Afonso Mota.
A seguir, veja o discurso do senador Requião e conheça o manifesto da Frente Nacionalista.
Texto do discurso:
Senhoras e Senhores.
A Frente que estamos constituindo hoje está aberta a todos os parlamentares que expressem uma genuína preocupação com os destinos da Nação, hoje claramente ameaçada por forças internas e externas.
Ela transcende a partidos, mas tem uma profunda marca ideológica de compromisso com a defesa da soberania nacional e com o nacionalismo.
Nacionalismo sem xenofobia. Nacionalismo que corresponda ao padrão histórico do brasileiro comum, orgulhoso de sua miscigenação e de sua múltipla religiosidade, aberto a todas as culturas, e integrado pelo desejo comum de promover o desenvolvimento sócio-econômico do país.
Não pretendemos ser uma plataforma retórica.
Pretendemos pôr os nossos esforços a serviço da defesa da nacionalidade e da construção de uma sociedade de bem-estar social que atenda a todos os brasileiros.
Não temos inimigos, exceto aqueles que colocam o poder econômico como instrumento de subordinação da política aos interesses do mercado e dos grandes capitais.
Hoje, a maior ameaça à soberania brasileira vem da financeirização da economia, na medida em que o sistema financeiro tornou-se um meio de escravização do nosso povo através de juros escorchantes e de escassez de crédito de longo prazo.
A economia e a sociedade estão sangrando. Pretendemos, com nossa união, acabar com isso.
Várias frentes da soberania nacional estão sendo agredidas pelo atual Governo numa velocidade espantosa. A Petrobrás, símbolo da nacionalidade, está sendo fatiada para efeito de privatização. Entrega-se ao capital privado a exploração da água, desconsiderando que esse dom de Deus não poderia ser transformado em base de negócios lucrativos.
Entregam-se ao capital privado, sem limites, grandes porções de nossas terras. Doa-se a base de Alcântara a uma potência estrangeira que espionou – e provavelmente ainda espiona – nossa maior empresa e o próprio Palácio do Planalto. Ataca-se e desvirtua-se o BNDES, âncora do financiamento público de longo prazo da economia, como alternativa ao capital vadio.
A abertura indiscriminada ao capital estrangeiro e o estrangulamento da própria economia nos tornou uma área de caça de grande interesse para o capital vadio, cujo fluxo de entrada no país é festejado como se a desnacionalização acelerada fosse uma grande vantagem para o Brasil.
Estamos destruindo empresas e empregos em detrimento da sociedade.
O agronegócio se tornou a aparente âncora da economia, como não se soubesse, pela história, que confiar exclusivamente na exportação de commodities é um risco tremendo para a economia, que fica à mercê de grandes carteis de comercialização e de financeirização global.
Tenho assinalado insistentemente que há formas diferenciadas de globalização, algumas virtuosas, como a industrial, quando gera empregos internamente e é submetida a forte controle doméstico com vistas à afirmação de objetivos nacionais.
Só os néscios não perceberam o caráter de pilhagem da globalização financeira que se tornou um instrumento de neo-colonização, com a subordinação dos sistemas financeiros nacionais aos centros financeiros hegemônicos, especialmente Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, com seus sócios menores nos países em desenvolvimento, como o nosso.
Não somos hostis ao capital estrangeiro, ou ao capital em geral.
Somos hostis à exploração desenfreada da classe trabalhadora, independentemente da origem do capital.
Nisso me coloco alinhado ao Papa Francisco, na predicação moral mais importante de um papa neste século: a firme condenação da busca obsessiva pelo dinheiro em si, por múltiplos expedientes, inclusive de corrupção, espalhando em contrapartida a miséria por amplas camadas da sociedade.
Dessa forma, o capital predatório é um típico adorador de Mamom, o deus dinheiro, sendo responsável por inédita concentração de renda na história mundial.
O povo tem dificuldades de identificar os inimigos mais inescrupulosos da Nação, representado pelo capital financeiro, porque vivemos numa sociedade de desinformação.
A grande mídia, comprada pelos financistas, desinforma pelo que diz e pelo que deixa de dizer. Daí nossa responsabilidade estratégica nessa Frente, no sentido de fazer chegar à sociedade uma crítica honesta e corajosa em relação ao funcionamento da economia e, insista-se, ao processo de financeirização e desnacionalização.
Sem uma sociedade informada, os nossos esforços em defesa de uma economia não apenas nacional, mas nacionalista serão em vão.
Entretanto, gostaria de expressar também a nossa opinião sobre outro tema relacionado com a globalização e a integração regional que circula há anos no mundo e na América do Sul. É a questão da integração comercial.
Muitos a defendem por analogia com o processo original de integração na Europa. Esquecem-se de que, no pós-guerra, quando se colocou a proposta de integração comercial europeia, os seis países membros, saídos da guerra, apresentavam bases industriais similares ou complementares, sem grandes desníveis.
A desgraça europeia foi o euro, instituído numa época em que a Alemanha assumira, inequivocamente, a hegemonia monetária e financeira no continente. Isso liquidou com a soberania fiscal de grande parte dos países europeus, sobretudo do sul da Europa.
Na América do Sul, tem-se aventado insistentemente a hipótese de uma integração comercial do Mercosul com a Europa.
Por trás do comércio querem nos impor goela abaixo o livre trânsito de investimentos, de propriedade intelectual, de serviços. É a união do lobo com o cordeiro. E não me venham dizer que isso é nacionalismo exacerbado. É defesa da economia nacional.
Vários trabalhos acadêmicos têm demonstrado que a proteção industrial é fundamental para o desenvolvimento. “Chutando a escada”, do coreano Ha Joon Chang, mostra de forma inequívoca que todos os países hoje desenvolvidos recorreram a medidas protecionistas na época de sua decolagem.
E esses mesmos países, ao se tornarem desenvolvidos, passaram a pregar o liberalismo econômico para os outros. As posições ideológicas, claro, se movem segundo os interesses nacionais deles.
Portanto, convido meus pares dessa Frente a fazerem uma reflexão a respeito e ajudarem a tomarmos posições comuns.
MANIFESTO
FRENTE PARLAMENTAR MISTA EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL
Com o objeto de defender, discutir e envolver o parlamento e a sociedade civil no debate sobre a soberania nacional, os deputados e senadores estão propondo a criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional, com base na Constituição Federal.
Manifesto pela Soberania Nacional
- O fundamento da democracia brasileira é a soberania, inscrito solenemente no Artigo 1° da Constituição.
- Este mesmo Artigo Primeiro estabelece solenemente que todo Poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente.
- A soberania é o direito inalienável e a capacidade da sociedade brasileira de se organizar de acordo com sua história e características sociais para promover o desenvolvimento de todo o seu povo, de forma justa, próspera, democrática e fraterna.
- Esta soberania não pode ser limitada por políticas ocasionais que a comprometam e que dificultem a autodeterminação do Brasil e sua capacidade de resistir a tentativas de interferência externa.
- A renúncia a certos direitos invioláveis, tais como o direito de organizar seu Estado e sua sociedade de forma a promover o desenvolvimento, é inadmissível.
- Assim, cabe ao Congresso Nacional, integrado por representantes eleitos pelo povo brasileiro, garantir a soberania, o desenvolvimento e a independência nacional.
- A organização de uma Frente Parlamentar de Defesa da Soberania se justifica na medida que Estados subdesenvolvidos como o nosso enfrentam sempre a ação de Estados mais poderosos para que reduzam sua soberania, enquanto esses Estados defendem e preservam com todo o empenho sua própria soberania.
- Os eixos principais de ação da Frente Parlamentar serão a defesa
- da exploração eficiente dos recursos naturais, entre eles o petróleo, para a promoção do desenvolvimento;
- da construção de uma infraestrutura capaz de promover o desenvolvimento;
- da contribuição da agricultura para a alimentação do povo e as exportações;
- do capital produtivo nacional e de um sistema de crédito que tenha como objetivo seu fortalecimento;
- do emprego e do salário do trabalhador brasileiro;
- de um sistema tributário mais justo;
- de Forças Armadas capazes de defender nossa soberania;
- de uma política externa independente.
Discurso Senador Requião:
Video Completo:
Senador, gostaria de saber quais parlamentares atualmente fazem parte da frente em defesa da soberania nacional?