Das tantas inovações que estamos introduzindo na educação pública paranaense, o Programa de Desenvolvimento Educacional, o PDE, é uma das que mais me encanta. Se não tivermos na sala de aula um professor altamente capacitado para a formação das nossas crianças e jovens, de nada adianta destinar, como estamos destinando, 30% do Orçamento para a Educação.
E que fique bem claro: não temos uma visão utilitarista deste programa. O PDE não é para formar tecnocratas, especialistas, máquinas de transmitir conhecimentos. Não, não queremos robotizar os nossos professores. O PDE antes de tudo é um programa que respeita os professores, que dá a eles a possibilidade de crescer, de avançar na carreira.
É a educação que queremos, inovadora, transformadora, formadora de mulheres e homens completos. Seres humanos integrais, não pela metade, não moldados à divisão de trabalho imposta pelo mercado, manietados pela competição.
O discurso fácil de quem não vê mais que meio palmo além do nariz insiste que a educação é o remédio para todos os nossos males; que basta deixar as nossas crianças nas salas de aula por alguns pares de anos que encontraremos o caminho paradisíaco do desenvolvimento, do progresso, do bem estar.
E lá vem os exemplos japoneses, coreanos. Elidem a história, as circunstâncias e contradições do desenvolvimento regional, os interesses e influências imperiais e querem transformar em modelo, em padrão, realidades peculiares.
Além do que não acredito que desejemos para os nossos filhos o brilhante futuro de apertadores de parafusos, de autômatos.
A educação por si só, isoladamente, não é uma varinha de condão, um abracadabra, que vai produzir a magia da transformação do pobre em rico, de um país subdesenvolvido em um país do dito primeiro mundo.
Não queremos formar escravos felizes.
É o que produziremos, se não combinarmos a educação com a busca da fraternidade, da igualdade, com a perseguição da utopia de um mundo solidário, seguro, que respeite e preserve o meio em que se vive, que faça da terra um lugar bom de se viver, feliz e justo.
A educação deve ser uma arma de mudança. Educar para mudar. Formar agentes da mudança.
O modelo de economia hoje vigente em quase todos os 198 países que formam o tal “concerto das nações” está levando a humanidade a um sério impasse, a um desafino perigoso.
Não são previsões, possibilidades. Já ultrapassamos essa fase. A deterioração da nossa casa no universo começou e avança rapidamente. Não se fala mais em um horizonte de séculos, projeções para o terceiro ou quarto milênios.
O desastre espreita-nos na esquina. O aquecimento da terra não é uma remota hipótese. Já aconteceu e agrava-se. A escassez da água não é uma ficção. A estiagem amplia-se pelo mundo todo e já temos imigrantes hídricos.
James Lovelock, o formulador da Teoria de Gaia que, em resumo, diz que a terra reage às agressões como se fosse um organismo vivo, considera que o Protocolo de Kyoto, que países como o Estados Unidos recusam-se a assinar, já está ultrapassado.
Segundo ele o tempo das advertências, do discurso, passou. Cabe aos Governos tomarem medidas de proteção às suas populações, em uma terra que daqui a 15 anos vai estar dois por cento mais quente. O desastre aconteceu e trata-se de se adaptar à nova realidade.
Ainda assim nada parece deter a sandice.
Por quê?
Por que o homem é mau? Intrinsecamente perverso? Por que destruir é de sua natureza?
Esse tipo de consideração moral só pode levar a propostas inconseqüentes. Afinal se a causa do mal não é corretamente identificada o remédio proposto não terá efeito.
Retomo aqui algumas das considerações que fiz na abertura dos trabalhos da Assembléia Legislativa.
Sejamos claros. Há uma incompatibilidade de origem entre o modo de produção que se globalizou e a existência do homem no planeta. Uma contradição absoluta, inconciliável entre o capitalismo global e a manutenção de uma terra saudável, habitável, acolhedora, maternal.
Não existe harmonia possível entre a perseguição obsessiva e irrefreável pelo lucro, a formação dos ciclópicos, colossais conglomerados transnacionais, devoradores insaciáveis de matérias primas, de energia, de florestas, de rios, de mares, de consciências, de vidas, de soberania dos povos, de autonomia das nações e a sobrevivência do homem no planeta Terra.
Como diriam os marxistas – e os marxistas têm razão – trata-se de uma contradição fundamental que se resolve com a prevalência de um dos pólos em choque.
Ou mudamos ou perecemos. Não é mais possível fazer um discurso verde, ambientalista, sem combiná-lo com a proposta de mudança do modo de produção, do controle dos meios de produção, das relações de produção e de trabalho.
A fantástica aventura do homem sobre a terra, que tantas maravilhas produziu, não pode findar de maneira tão medíocre, chafurdando-se na poluição, no lixo, favelizando-se nas cidades, na destruição das florestas, na extinção da fauna, na desertificação, nos desaparecimentos dos rios, na sede e na fome.
Tudo o que a arte e o engenho humano criaram, vê-se de repente ameaçado pelo alarido insano dos pregões das Bolsas.
É o tropel dos novos Atilas. É a barbárie, a grosseria, a crueldade, a selvageria, o atraso, a incultura, a bruteza atropelando a civilização.
Educar para mudar. Para construir um outro mundo, uma nova sociedade, um outro Brasil, um novo Brasil. Não avançaremos, não iremos a lugar algum persistindo neste modelo de desenvolvimento, sob esta orientação político-econômica.
Esta é a única revolução pela educação em que acredito. A direita, os reacionários, essa gente que tanto garganteia sobre a educação, querem que as nossas escolas, que os nossos professores sejam instrumentos de preservação, de conservação, de manutenção desse estado de coisas.
Não queremos uma escola que molde nossas crianças e nossos jovens à imagem e à semelhança dos valores de uma sociedade que tem na competição, na esperteza, na busca pela fama e pela celebridade, na riqueza fácil, no consumismo idiotizado ideais de vida.
Uma sociedade que não lê, que não discute, que não debate, que não questiona, que não pesquisa, produz escolas que não se inquietam, que não protestam, que não reagem.
Queremos escolas vivas, criativas, agitadas. Queremos professores que mobilizem as sal
as de aulas, que abram horizontes, que descortinem a vida e as maravilhas do conhecimento.
Queremos escolas que quebrem o monopólio da informação. Hoje, apenas seis redes privadas de comunicação controlam 667 veículos, entre emissoras de TV, de rádio e de jornais diários, que atingem 87 por cento dos domicílios de nosso país, em 98 por cento dos municípios brasileiros.
Queremos professores e alunos esclarecidos, que não se submetam ao controle da opinião pública, à verdadeira ditadura do pensamento dominante hoje imposta pela grande mídia.
Não vamos romper as amarras da dominação, do atraso, da subserviência, do atrelamento ao capital global, se não rompermos o monopólio da informação, se não tivermos uma sociedade esclarecida, bem informada.
Queremos uma educação e uma escola libertárias, iluminadas pelas lições da solidariedade, da fraternidade, da generosa utopia de um mundo sem explorados e sem exploradores. Um mundo em que os homens vivam em harmonia entre si e com o ambiente que os cerca.
Professoras, professores, que o PDE ajude a construir uma escola assim.
Página IncialSem categoriaLançamento do Programa de Desenvolvimento Educacional ? PDE. Março de 2007.